quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Pedaços...


"(...)- Quando eu chegar eu falo. Só me diz uma coisinha, o Dé está por aí?
No mesmo instante da pergunta o menino abre a porta. Amanda estranha seu jeito. Ele, sem falar nada vai para o seu quarto deixando a porta aberta.
-Falando nele... Acabou de chegar com um péssimo humor, fedidinho pra caramba. Acho que não está num bom dia, grosso...- falou alto para que o irmão escutasse.
- Escuta aqui Alice, vê se me deixa em paz e vai cuidar da sua vida, sua problemática! É isso mesmo, sua vida já é bem complicada, você é complicada então acho melhor você ficar com esses seus problemas e me deixa quieto com os meus que por sinal são bem menores e em menor quantidade que os seus! Pára de se meter na minha vida! Cala essa boca ! Me deixa!- gritava André do seu quarto.
- O que está acontecendo?- Ana assustada ao telefone.
Alice soltou o telefone na mesinha e saiu para o quarto do irmão.
-Lili, não vá lá! Alice, você estava falando com a Ana no telefone lembra?
Amanda Tentou evitar um problema maior.
- Que que deu em você Dé! Sou sua irmã...- chorando muito- Eu posso sim ser diferente mas e daí! Hoje foi o dia mais feliz da minha vida e você está estragando tudo! Você tá querendo o que falando essas coisas comigo? Para com isso! Você está me ouvindo? Tá me ouvindo?
- Eu mandei você calar essa sua maldita boca agora! Se você não entendeu deixa que eu mesmo fecho a sua matraca!- agressivo
- Ei, gente! Eu tô aqui ainda! Alguém pode pegar esse telefone e me dizer o que está havendo aí em casa?
André levantou da cama que estava deitado e foi pra cima da irmã. Grosseiramente apertava o braço da irmã e gritava a mesma frase repetidas vezes;
-Vai ficar quieta agora? Pára de chorar que você está atrapalhando meu sono e tirando minha vontade de dormir! Não vai falar nada agora, só vai chorar, ein?!
Depois da terceira repetição, ele apertou com força a boca da irmã e as bochechas, apertava-as como se fosse um bichinho de pelúcia que nunca se machucava.
Alice  chorava cada vez mais alto. Seu irmão estava machucando-a sem ela ter lhe dado um motivo, e mesmo que tivesse motivo, eles eram irmãos e isso não estava certo.
-Pára André! Pára!!! Solta a Lili! André, para por favor!
Gritou chorando Amanda,assustada com a situação. Amanda tentou segurar o menino e soltar a irmã mas cada vez que ela conseguia soltar Alice  puxando o irmão na direção oposta, ele agredia-a e voltava com ainda mais força pra cima de Lili. Uma das vezes Alice caiu no chão de joelhos e chorou ainda mais alto.
A cena era terrível, creul, sem explicação esse comportamento momentâneo do menino.
Ana não aguentava mais, desligou o telefone, ligou do seu celular para David para pedir ajuda.(...)

David tentou segurar o menino, mas ele conseguiu se soltar.
- André! Pare com isso! O que está acontecendo com você? Você nunca foi assim! Pare André!- gritou Ana.
Mas de nada adiantou.
Ana não aguentava, seu peito apertava e doía em ver a irmã gritando, chorando e sofrendo daquela maneira. Sentia dor também por não saber o por que o irmão estava agindo assim, fazendo aquilo, ela tinha feito de tudo por eles três desde que seus pais viajaram e agora o resultado era esse, um irmão espancando as outras irmãs sem se saber por que e sem entender a reação do menino que mudara de uma hora para outra. Ela sentia uma dor, um aperto... Dor de mãe em ver seus filhos, um contra o outro. Começou a chorar.(...)
Ana, de joelhos, abraçou Alice que continuava a chorar como uma criança com medo de dormir no escuro, assustada com o monstro do armário e escandalizada com um filme de terror real que viveu naquele dia que começou tão bem. Esticou o braço chamando Amanda para o abraço também. David logo se juntou a elas. Fizeram o que Ana chamava de Abraço Cebola, cada pessoa dentro desse abraço é uma camada da cebola, as camadas separadas não formam nada, unidas, formam a cebola, um alimento importante para a vida assim como o amor que este abraço continha.
A casa ficou silenciosa, muito diferente de como estava antes. David levou o menino para o quarto e trancou a porta para não sair de lá caso despertasse. Quando voltou, as menias ainda estavam se abraçando, ele passou a mão nas costas e nos cabelos de Ana.
Abraço desfeito, mas Alice não parou de chorar e soluçar. Estava sentindo muita dor, dor dos machucados feitos pelo irmão transtornado.
- Calma Lili, deixa eu olhar para o seu rosto.- disse Ana erguendo o rosto da irmã e reparando nos muitos machucados e pensando a força que o irmão fez para deixá-la daquele jeito.- Onde está doendo mais querida?
-Depende... Dói muito aqui, no joelho.- pegando no joelho direito-  Mais tá doendo muito mais aqui...- colocando as duas mãos no coração.
Amanda e Ana desandaram a chorar e abraçar a irmã. David não queria demonstrar que lágrimas escorriam pelo seu rosto, passava a manga do jaleco assim que saim dos olhos para que não as vissem, uma ou outra escorria e tocava o chão.
- Desculpa Ana, não consegui segurar o Dé, eu tentei muito, mas ele é muito mais forte do que eu imaginava. Vocês tiveram que vir até aqui, tiveram que sair do trabalho...-Amanda se sentia um pouco culpada.
- Calma Amandinha, não foi sua culpa. Não é culpa de ninguém!- disse Ana. (...)"

                                     ( trecho de " Diário Down" de Vivi Louhrinci )