quinta-feira, 16 de maio de 2013

Entrelaçosdividas

Moro num barraco
sem nada, sem telhado;
Nem comprado, nem roubado,
não foi arranjado, doado ou emprestado,
nem demolido, nem abandonado,
não foi ocupado, construído ou legalizado;
Moro num barraco
sem nada, mas com gente;
gente amiga, carente, demente,
gente calada, fechada, tagarela,
gente feliz, gente drogada, gente animada,
gente chorando, caindo, morrendo;
Moro num barraco
sem nada, mas com vizinhos;
e não são um, nem dois, nem quatro, nem três,
são uns vinte, trinta, cinquenta talvez;
Moro num barraco,
sem nada, mas com meu suor;
eu que coloquei papelão, areia, plástico, colchão
garrafa, tecido, cadarço, sacola,
eu que empilhei tudo isso com um pouco de tijolo,
pedra, pneu, lona, madeira;
Moro num barraco
sem nada... sou nada, pro governo, além de problema.
Não sou tratante, quando falo eu faço,
nem sou traficante, longe fico disso.
Não sou assaltante, não pulo muro, não roubo,
nem sou flanelinha, nem encho o saco pra lavar o vidro do carro.
Eu sou artista de rua, de casa, de palco, de onde der pra ir,
faço dança, teatro, canto, toco o que quiser pra você sorrir;
Moro num barraco
sem nada, mas se não fosse eu existir
você não estaria aí,
porque fui eu quem te fez acalmar a alma e sorrir,
naquele sinaleiro, no dia que você fez sua entrevista,
minutos antes de chegar no lugar que você está,
quando me deu a moeda depois de ver meu malabarismo atrapalhado e eu disse... 
" Que Deus te abençoe!" 
Depois disso você chega, hoje, pra mim,
o mesmo cara que te fez sorrir,
me xinga, grita comigo, me manda embora pra longe, pra aquele lugar
e quando eu digo " Que Deus te perdoe!", bem assim
você joga seu carro no meu corpo e me manda  pro meu melhor lar...

( Vivi Louhrinci )